Carlos Alberto de Oliveira Andrade cravou as iniciais de seu nome na história da indústria automotiva nacional. Com estilo agressivo nos negócios, o "Doutor" transformou a Caoa no "maior conglomerado de distribuição e fabricação de Automóveis da América Latina", como se autodenomina a empresa.

Foi responsável pela entrada de Renault e Hyundai no Brasil, marcas até então desconhecidas por aqui, e quebrou o preconceito contra carros chineses ao produzir com sucesso modelos da Chery. A morte do empresário neste sábado encerra a trajetória bem-sucedida de um médico que se tornou o principal empresário do ramo automotivo no Brasil.

Empresário quase por acaso

A história de Carlos Alberto de Oliveira Andrade no setor automotivo começou em 1979 em Campina Grande, na Paraíba, quando o então médico decidiu comprar um Ford Landau, mas a concessionária faliu antes da entrega do carro.

Com seu bom faro para negócios desde aquela época, ele resolveu comprar a loja, já descontando o valor do Landau, dando o primeiro passo do que se tornaria um verdadeiro império no mercado brasileiro. Surgia assim o Grupo Caoa, nome formado por suas iniciais.

Em menos de seis anos, "Doutor Carlos", como é conhecido até hoje, se tornou o maior revendedor da Ford no Brasil, tanto em número de revendas como em carros vendidos. Sua fama sempre foi a de ser agressivo nos negócios: sempre aceitou diferentes formas de pagamento, dando descontos mesmo que isso significasse perder dinheiro, para concretizar a venda.

Carlos Alberto quebrou paradigmas

Pioneiro entre os importados com a abertura das importações em 1990, Caoa começou a procurar uma montadora para trazer ao país. Fechou com a Renault e passou a ser importador oficial da marca a partir de 1992. Trabalhando da mesma maneira arrojada, tornou a francesa a quinta marca mais vendida do mercado brasileiro. Durou pouco. Após um desentendimento com seus parceiros, porém, decidiu buscar outra marca com a qual trabalhar.

Em 1998, o empresário assumiria as operações da Subaru no país, que detém até hoje. Mas a marca japonesa nunca chegou a brilhar no Brasil, apesar de seus carros cheios de tecnologia e com bom desempenho. Em meados dos anos 2000, corria um boato de que para cada carro da Hyundai vendido, eram investidos R$ 5 mil em publicidade.

No ano seguinte, 1999, começa a importar os carros da sul-coreana Hyundai, que passou a ser sua menina dos olhos. Caoa transformou a imagem da marca, tendo o SUV Tucson como carro-chefe, por meio de forte investimento em publicidade em diferentes meios de comunicação, tornando-se um dos principais anunciantes do país.

Fábricas no Brasil

Com o negócio crescendo, a Caoa decidiu então fazer uma fábrica em Anápolis, no interior de Goiás, em 2007. Foram investidos R$ 1,2 bilhão, com recursos próprios, sem incentivos do governo. Inicialmente, sob licença da Hyundai, foram feitos o Tucson e os veículos utilitários HR e o HD78. Em 2012, recebeu da matriz sul-coreana da Hyundai o título de distribuidor do ano, concorrendo com 179 outros grupos ao redor do mundo. Foi a primeira vez que o prêmio foi entregue para um parceiro de fora da Europa.

Paralelamente, o ano terminaria com o lançamento do modelo mais popular da Hyundai, o compacto HB20, diretamente pela matriz - o Grupo Caoa seria "apenas" revendedor do modelo.

Ainda assim, a fábrica de GO passou por um novo ciclo de investimentos de R$ 600 milhões em 2013 para dar início à produção do ix35, nome local do Tucson de segunda geração. Ambos eram vendidos simultaneamente do mercado, para alavancar emplacamentos.

No mesmo ano, o empresário se afastou do comando direto da Caoa, assumindo a função de presidente do Conselho de Administração do grupo. Ainda assim, Andrade manteve papel fundamental nas decisões da empresa. Incluindo aí o próximo salto.

Aliança chinesa

Já em 2017, o Grupo Caoa planejava uma integração à chinesa Chery. Naquele momento, eram fortes as notícias de bastidores sobre o estremecimento de relações com a Hyundai. A parceria com os chineses, porém, só se concretizou em março de 2018, com a compra de 50,7% das ações da filial da Chery no país, dando início às operações da Caoa Chery e passando a ser a responsável por importação, distribuição e fabricação da marca no Brasil.

Com metade do negócio, a fábrica da Chery em Jacareí (SP) ficou responsável pelos modelos QQ e pelos novos Arrizo 5 e Tiggo 2 (crossover que tomou o lugar da linha Celer). Já a fábrica de Anápolis recebeu então novos produtos em sua linha, os Tiggo 5X, 7 e 8. Planos ousados de expansão ainda preveem aumento de linha e venda - e até mesmo veículos elétricos.

Últimos negócios

Nos últimos anos, Caoa ainda participou de negociações sobre os ativos da Ford. Esteve próximo de acertar a compra da fábrica da empresa norte-americana em São Bernardo do Campo (SP) e mostrou interesse em adquirir a planta de Camaçari (BA). As tratativas, porém, não avançaram.

Ainda apresentou o novo Tiggo 3X e anunciou a chegada de uma nova marca chinesa ao país: a Exceed, divisão de luxo da chinesa Chery. Segundo Caoa, o objetivo é disputar mercado com montadoras premium como BMW e Mercedes-Benz, em novo traço da ousadia.

Recentemente, venceu a Hyundai em um tribunal internacional, a marca sul-coreana queria encerrar o vínculo com a empresa brasileira para assumir o controle total da marca por aqui. A Justiça, porém, deu ganho de causa à Caoa, garantindo a renovação automática do contrato por mais 10 anos.

Por - Gutemberg Stolze / Imprensananet.com

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