A etapa de Jeffreys Bay por muito pouco não termina em uma grande tragédia. Logo no início da bateria final contra Julian Wilson, Mick Fanning sofreu um ataque de tubarão. Aparentemente dois animais se aproximaram do surfista. O tricampeão mundial foi surpreendido pelos animais e começou a tentar se desvencilhar usando a prancha. Demonstrando um semblante de desespero, Fanning chegou a ser atingido no rosto e caiu da prancha. Em determinado momento o australiano sumiu das imagens causando grande apreensão.
O resgate agiu rápido. Uma lancha e dois jet skis da organização se deslocaram para a cena do ataque e resgataram o surfista. Para alívio geral, Fanning saiu da água inteiro, sem ferimentos, assim como Julian. Os tubarões chegaram a cortar a corda que prendia a prancha ao pé do australiano, mas não o machucaram. Já na lancha, mas ainda muito assustado, Fanning deu seu relato sobre o incidente:
- Era dos grandes. Eu estava sentado, parado e comecei a sentir algo ficar preso em minha perna e instintivamente eu pulei, tentando escapar. Mas ele começou a atacar minha prancha, eu comecei a gritar e chutá-lo. Eu só vi barbatanas, não vi dentes. Eu estava esperando virem os dentes em mim. Chutei a traseira dele – disse Fanning, um tanto assustado, mas mantendo o bom humor.
A bateria foi interrompida imediatamente. Somente Julian havia pego onda, e liderava com 6.67. Havia apenas quatro minutos de bateria, dos 40 previstos. Por precaução e ainda apreensiva com o enorme susto, a organização da WSL adiou a disputa da final para segunda-feira. Os dirigentes sentarão com os dois surfistas para analisar a situação e saber qual decisão tomar.
- Temos regras e regulamentos para incidentes como esse. Aparentemente foram dois tubarões. Só vamos retomar a final assim que tivermos 100% de segurança para os surfistas competirem. Não só Mick, mas Julian também pode não estar se sentindo confortável em voltar para a água hoje. É a primeira vez que isso acontece na história do surfe profissional. Nunca tínhamos visto isso – disse o comissário adjunto da WSL, o brasileiro Renato Hickel, momentos antes de decretar o adiamento da final para segunda-feira.
Emocionalmente abalado, Julian Wilson, que estava na água no momento do ataque, se disse aliviado por nada de grave ter acontecido com Fanning:
- Eu vi tudo. Eu estava tipo "por favor"... Achei que o bote de segurança não chegaria a tempo. Só estou feliz que ele está vivo - desabafou Julian, em lágrimas.
J-Bay tem histórico de ataques de tubarões
O litoral sul-africano abriga uma das maiores concentrações de tubarões brancos, presença frequente em praias como Jeffreys Bay. Os surfistas ficam com o alerta ligado. Em 2007, o australiano Mick Lowe se assustou ao ver um animal na competição, e, em 2003, o aussie Taj Burrow deixou a disputa com medo de um tubarão. Antes da etapa, o próprio Mick Fanning havia dito que nunca tinha visto tubarões na região e contou como reagiria.
- Eu já mergulhei com tubarões na costa de J-Bay em uma gaiola e aquilo foi selvagem, mas eu nunca vi nenhum no line-up. É algo que pode te enlouquecer se você pensar muito. Eu prefiro sempre seguir a minha intuição, se eu sentir o perigo, eu não fico dentro da água - disse Fanning, na ocasião.
No último mês, o bodyboarder Caleb Swanepoel, de 19 anos, perdeu a perna direita e sofreu lacerações na esquerda depois de um ataque de um tubarão branco em Buffels Bay. No dia anterior, o surfista Dylan Reddering, de 23, foi atacado, em Plettenberg Bay. No ano passado, um enorme tubarão branco foi visto em um dia de condições perfeitas em J-Bay, causando pânico entre os surfistas. O ex-top da elite mundial Daniel Ross, da Austrália, foi um dos primeiros a perceber a presença do animal. Após a debandada, o big rider Grand "Twiggy" resolveu voltar ao mar usando um "shark pod", uma espécie de "repelente" de tubarões. O dispositivo eletrônico emite ondas sonoras que afastam os predadores. O aparelho, utilizado por surfistas e mergulhadores, funciona em 90% das vezes, segundo testes realizados por pesquisadores da Universidade da Austrália Ocidental (UWA).
Fonte: G1
Por Gutemberg Stolze - Imprensananet.com